Permissão para falar... ou será que é para ouvir?



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Toque duas vezes.

Engraçado, como nós estamos vivendo em um momento em que todos querem muito falar, restando poucos dispostos a ouvir: ouvir a si mesmos, ouvir o outro, ouvir a vida.
Não estamos tendo paciência para ouvir o outro, mas também não temos tido tolerância nem para ouvirmos a nós mesmos. Jesus já nos avisava, há dois mil anos, que para darmos algo a alguém, precisamos primeiro ter em nós aquilo que queremos dar. Assim, Ele ensinou: “Ame a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
Portanto, se não tivermos nenhum sentimento de amor, de compaixão, de solidariedade por nós, não conseguiremos dar ao outro o que ainda não possuímos! Podemos agir “mascarados” por algum tempo, mas não por todo o tempo. Assim, por incrível que pareça, se não estamos conseguindo ouvir o outro é porque também não estamos nos escutando.
O problema é que, quando estamos assim (surdos às nossas necessidades), a nossa represa interior estoura em algum momento, e como podemos exigir do outro que nos escute se não há reciprocidade de nossa parte?
Sempre achei profundo aquele dito popular que diz: “Deus deu ao homem dois ouvidos, dois olhos e uma boca, para vermos e ouvirmos duas vezes mais do que falamos”. Com essa sabedoria oriental milenar, percebemos, sem sombra de dúvidas, que deveríamos pensar mais antes de falar para não arriscarmos nos escravizar diante de nossa própria ignorância, pois tudo o que falamos nos caracteriza.
Numa atitude corajosa, busquem relembrar o que fizeram e o que falaram (ou digitaram) durante todo o dia de ontem. Será que teriam coragem de permitir que repassassem tudo, como em um filme, sem filtro e sem corte, para todos verem? Se a resposta for “Claro que não!” ou um “Não!” bem sonoro, talvez precisem repensar em como estão aproveitando mal o seu tempo, esse tempo que nos foi dado para usarmos a nosso favor nessa experiência reencarnatória e que a cada segundo fica mais curto; esse tempo que nos resta para finalizarmos essa reencarnação e que é tão precioso, pois ele é único no segundo presente de nossa existência.
Se nossas ações podem nos envergonhar a ponto de não desejarmos que outros tomem conhecimento delas, acreditem que a cada momento, cada um de nós, está se expondo a alguém, porque as nossas ações e, por consequência, a nossa fala, são uma manifestação de quem “estamos” hoje. Quando apontamos o dedo para alguém e o criticamos, estamos mostrando quem ainda somos.
Um exemplo simples, para um entendimento mais profundo: Fulano gosta muito de criticar quem está sempre em evidência em seu trabalho, mas, em circunstância semelhantes, ele age da mesma forma que os seus criticados.
Vocês poderiam dizer que têm muitas coisas que criticamos que não fazemos de jeito nenhum. Eu concordo, discordando, porque se ainda criticamos, nós ainda não compreendemos tais circunstâncias em sua plenitude. A espiritualidade sempre nos ensina que aquilo que já ultrapassamos não nos atormenta mais. Então, se nos deparamos com uma situação que nos leva a críticas exacerbadas, a julgamentos coléricos, isso significa que o que criticamos ainda não superamos, mas já aprendemos algo a ponto de não agirmos cotidianamente daquela maneira. Por exemplo, matar alguém. Hoje, criticamos muito quem mata porque não matamos mais (é o que afirmamos!). No entanto, se estivermos em perigo de vida ou alguém que amamos, será que mataríamos o agressor? Ou seja, podemos não mais matar “à toa”, mas ainda matamos “justificadamente”. O ponto é que esquecemos que aquele que mata também têm as suas próprias justificativas (sejam elas quais forem). Então, estaríamos justificados perante a justiça divina?
Não podemos mais perder tempo com atitudes sem sentido: falar mal de alguém, planejar o mal do outro, levar ao próximo sentimentos que o farão duvidar de si mesmo, abandonar o outro não o ajudando a recuperar a esperança que o faria progredir, e muito mais.
É importante entendermos que, para ajudarmos alguém, precisamos saber do que ele precisa. E não saberemos nunca, se não o escutarmos em suas necessidades. É só dar o silêncio que o verbo alheio se propagará na confiança que já construímos ao falar ao seu coração. Para tanto, em alguns momentos, o falar precisa calar e o ouvir precisa agir.
Assim, todos nós estaremos nos dando a oportunidade de sermos acalentados em nossas dificuldades, seja vindo o amparo de nós (para o outro e para conosco), seja vindo do outro que nos ama ou nos reconhece como um irmão em Cristo.

Permissão para falar... ou será que é para ouvir? A cada um o que foi pedido.

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