Pecados de uma sociedade...



Temos vivenciado, com muita intensidade, histórias marcantes de amigos, conhecidos e até desconhecidos que passam por momentos de muita insatisfação, tristezas, mágoas e, infelizmente, até depressão em suas vidas.
Histórias recorrentes que, por muito tempo, a sociedade considerava bobagem, pequenez e até fraqueza daqueles que estariam tendo esses comportamentos ou sentimentos.
A sociedade não era sensível àqueles que não estavam sabendo lidar com a dor. Como num “espelhar civilizatório”, estávamos voltando à época de Esparta que jogava suas crianças nos penhascos, ou abandonava seus cidadãos mais debilitados por serem fracos para enfrentar as batalhas a que eram submetidos. A fraqueza, naquela sociedade, era um “pecado”, e parece-nos que, na nossa, ainda é.
Hoje, a sociedade já se preocupa com tais perfis, mas ainda não compreende, na essência, o que os origina. Não vinculamos essa fraqueza com a guerra a ser vencida, mas parece que resolvemos abraçar outras guerras interiores mais cruéis. Vi um vídeo com o filósofo Leandro Karnal, onde ele descrevia sua experiência em entrevistas para admissão de novos empregados. Ele afirmou, categoricamente, que nunca ouviu dos candidatos respostas sinceras à pergunta: “qual o seu maior defeito?” Todos tentavam usar dessa pergunta para embutir uma qualidade sua, sem respondê-la diretamente. Isso me fez refletir: por que não conseguimos admitir que ainda somos pessoas com defeitos e que precisamos nos aprimorar, dia a dia?
Mas, podemos pensar que, ali, na tentativa de conseguir um emprego, as pessoas não queriam arriscar e, portanto, aceitavam descrever aquilo que elas não são, mesmo que partindo de uma mentira ou de uma meia verdade! A maioria dizia que era perfeccionista demais, ou que não dava atenção a sua família pela dedicação que tinha ao seu trabalho... essas coisas! Mas, e depois? Quem arcará com essa escolha de não ser sincero? Mesmo sem pensarmos na lei de causa e efeito, o candidato, após contratado, teria de agir da forma como disse ser. Será que ele seria capaz? Ah, mas aí o emprego já seria dele. Será?
Precisamos ser mais honestos conosco para que saibamos quais os instrumentos interiores possuímos para lidar com a nossa vida diária. Se não temos noção de quem somos, precisaremos mentir ou omitir realidades, e, como consequência, não sabermos qual a nossa capacidade para enfrentar as adversidades!
Assim, vamos adoecendo psicologicamente, porque vamos esquecendo de quem realmente somos e nos decepcionamos profundamente com esse “eu” que existe somente em nossa mente. E ele se torna tão real que não aceitamos quando “ele” erra, quando “ele” age contrariamente ao que foi propagado sobre a sua capacitação, seja como profissional, seja como pessoa humana.
Então, vamos construindo sentimentos de tristeza, de incapacitação, de frustração sobre quem “estamos” hoje! Se não sabemos quem “estamos”, será que sabemos quem somos? Se não temos essas informações claras sobre nós, estamos guiando nossa embarcação sem qualquer noção do destino traçado!
Infelizmente, tais desinformações sobre quem somos, somadas a estes sentimentos tóxicos que alimentamos, talvez nos leve a um estado físico que pode atingir várias formas ou graus de enfermidades. Elas são o resultado da não aceitação de nosso eu verdadeiro, refletindo em ações que nos levam a deixar de nos amar e nos preservar.
Não podemos desconsiderar a nossa dor ou a alheia! Ela é um alarme, por vezes, ensurdecedor que chega a nós como um pedido de socorro e não podemos nos fazer de surdos. Todos que passam por isso, sem exceção, darão esses sinais para quem puder escutá-los, porque ninguém desiste de si sem lutar. Precisamos estar atentos. Nós (e os outros) mudamos de comportamento, ficamos introspectivos, tristes, isolados, falamos indiretamente de nossas dores, antes de efetivamente adoecermos.
Mesmo quando tentamos esconder a nossa dor nas risadas expansivas para que ninguém nos flagre em nossa “fraqueza” interior, mudaremos de comportamento porque as máscaras cairão diante da dor dilacerante em nosso peito. Então, a dor pode ser vista e a ajuda pode chegar, vinda dos outros ou de nós mesmos. Se conseguirmos fazer isso por nós, também faremos pelo outro, se for este o nosso propósito.
Não devemos jamais abandonar o nosso posto de amigos e ajudadores do Cristo na tarefa de consolar e amparar os nossos irmãos, porque não há arrependimento maior do que tomarmos essa consciência somente depois dos atos extremos praticados pela dor alheia, não tendo tido mais cuidado com aqueles que estavam ao nosso lado.

Façamos pelo irmão. Façamos por nós... sempre!

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