Vícios do cotidiano


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A cada dia, iniciamos um "ano novo" cheio de expectativas, cheio de esperanças que algo surgirá, que algo nos retirará de um momento que pode parecer de desesperança.

Nosso grande erro é ainda achar que precisamos desse algo para mudar. Claro que oportunidades são bem-vindas para empreendermos mudanças, mas se não as abraçarmos, de nada adiantará tê-las tido.

Para que o nosso mundo mude, precisamos “nos” mudar. Para que a nossa vida tenha outras expectativas, precisamos decidir o que queremos para nós. E isso tem tudo a ver com os nossos vícios. Estou aqui falando sobre os vícios que abraçamos em nosso cotidiano e não somente os vinculados às drogas, às bebidas... Se respondam agora: qual vício eu possuo que detecto no meu dia a dia?

Hoje, dentre os vários vícios muito comuns a todos temos a utilização dos aparelhos celulares em seus vários aspectos. Ligar e atender ligações são uns deles, mas também todos os aplicativos que neles hoje existem (WhatsApp, Facebook, jogos, músicas...) são instrumentos bem ativos para, dentre outras coisas, nos alienar da vida real.


Poderíamos dizer que a geração dos adolescentes foi a mais atingida pelo uso constante desses fatores viciantes, mas acredito que não é mais seguro afirmar isso. Para todo lado, vemos jovens e “antigos” (como eu) com os seus celulares nas mãos. Aliado ao fato de parecer que todos temem que, longe de seus aparelhos, perderiam algo de muita importância em suas vidas, há a cobrança das demais pessoas por não serem prontamente atendidas quando ligam, reforçando mais e mais esse hábito.

Estamos a cada dia mais viciados nessa tecnologia e o que ela pode ofertar. Mas, afirmo viciados, porque, apesar de toda vantagem que ela nos proporciona, não precisaríamos estar escravizados a ela. Dou um exemplo simples para aqueles que negam essa condição:

Vi um programa onde eram entrevistados jovens adultos que diziam que não deixavam de atender ao celular ou ver as suas mensagens mesmo quando estavam na direção de seus veículos. Todos eles afirmavam que aquele contato poderia ser urgente e não poderiam esperar até parar o carro, que seria falta de educação não atender e outras tantas justificativas. Falavam rindo e com firmeza. Na segunda parte da entrevista, eles eram colocados de frente a uma vítima de acidente automotor causado por um jovem que estava ao celular. Ela se tornara deficiente e, pior, perdera os pais nessa tragédia. Todos eles ficaram sensibilizados e não conseguiam repetir para ela aquelas justificativas dadas anteriormente. Unanimemente, disseram que suas desculpas não eram tão fortes a ponto de tirar a vida ou incapacitar alguém.

Eu achei notável a experiência, mas gostaria de apresentar o lado prático dela porque tenho certeza de que cada um dos entrevistados lutará com afinco, mas terá extrema dificuldade de mudar o seu comportamento imediatamente. Se antes eles agiam assim, algo os motivava. Esta experiência somente lhes trouxe uma certa conscientização, agora falta que ela seja absorvida intimamente por cada um deles.

A pergunta é: o que os movia a alimentar esse comportamento? Acredito que a ansiedade é um dos fatores. Quando o telefone toca e ficamos ansiosos para saber sobre o que se trata, não queremos atender depois, porque a ansiedade nos faz sofrer. Aí é que precisamos agir porque deixamos de dominar para sermos dominados pela emoção. Temos de flagrar o que nos impulsiona, para conseguirmos abandonar os maus hábitos.

Já escutei muitos motoristas dizendo que, quando o celular toca, sentimentos de angústia e ansiedade se instalam até que possam parar o carro e retornar à ligação.

Eu fico lembrando quando não existia o celular (sim, houve uma época que o celular não existia! Hihihi)... íamos para os bares com os amigos e era com eles que conversávamos! Saímos de casa e só recebíamos boas ou más notícias quando chegávamos em nossos serviços ou retornávamos para casa. Não havia ansiedade nem preocupação neste meio tempo. Para falar a verdade, nem quando o telefone batia nos horários normais do dia ficávamos preocupados. Só atendíamos!

Então, o que aconteceu? Verdadeiramente, criamos crenças[1]! Aliadas à outra “crença do século” de que precisamos ser sempre melhores neste mundo competitivo, criamos outras crenças deturpadas de que precisamos estar “antenados” vinte e quatro horas por dia. Se assim não fizermos e algo acontecer, será nossa culpa o que de pior acontecer: se minha mãe ligou querendo ajuda e eu não atendi, a culpa é minha; se o patrão mandou um recado e não o vi, a culpa é minha também... mas, não podemos viver assim! Se eu não pude atender a minha mãe ou o meu patrão, eu não fiz de propósito, só não pude atender. Não posso ser culpado por ser uma pessoa normal que nem sempre poderá estar onipresente na vida de todos. Assim, nos libertaremos da ansiedade e da angústia que estamos construindo em nós a cada dia.

Precisamos nos libertar desses vícios cotidianos para o nosso próprio bem porque para sermos livres precisamos desmistificar os preceitos falsos que teimamos em abraçar por não aceitarmos que ainda estamos em pleno aprendizado evolutivo e vivermos mais plenamente para que tal aprendizado se faça com bases mais sólidas e verdadeiras.




[1] Chamo de crença uma verdade que solidificamos em nosso inconsciente através das experiências da vida que, com o tempo, podem ficar obsoletas ou podem ser falsas, mas que acreditamos que são valiosas e reais. Normalmente, a vida nos trará experiências para flagrarmos a nossa visão equivocada e quebrar essas crenças escravizantes.

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