O Rio Doce somos nós?


Hoje, estamos com o coração partido porque estamos com a sensação concreta de desolação.

Como é difícil vivermos na incerteza do amanhã? Como é penoso você acompanhar a trajetória daquela lama tóxica e nada poder fazer. Como é penoso nos sentirmos tão pequenos e dependermos de pessoas que parecem que não entendem o quão é grave o que passamos...

A primeira certeza que precisamos relembrar é que, apesar desse quadro triste que se apresenta, não estamos abandonados por Deus. Apesar de vermos e sentirmos a dor alheia, nada está sem a devida orientação dos mensageiros cósmicos. 

O Homem faz as suas besteiras, mas nada escapa da Providência Divina. No entanto, não escaparemos das consequências de nossas ações. É simples assim!

Se relembrarmos das grandes guerras, quantas foram as tragédias individuais e coletivas provocadas pela ganância e ignorância humana, mas, através das Mãos Providenciais, tais circunstâncias também trouxeram para os corações uma maior conscientização da dor alheia, um sentimento de maior solidariedade coletiva, além do inquestionável avanço tecnológico e medicinal.

Diante de tudo o que o Homem fizer, seja bom ou não tão bom, caberá a ele responder. Mas, Deus transmutará esse “tudo” em graças à grande Humanidade. Também agora, isso se dará. Eu acredito!
Mas, se Deus faz isso no âmbito coletivo, também o faz no individual. Para isso, no entanto, Ele precisa de nós. Precisa que nos mexamos, precisa que nos conscientizemos que podemos fazer a diferença. São essas certezas que levam os voluntários a se deslocarem de seus lares e ajudarem a quem precisa. Eles entendem que podem fazer a diferença para a coletividade. E nós, podemos fazer isso por nós?

O nosso querido Rio Doce já estava morrendo, mas, mesmo nós que dependemos dele nada fizemos para resolver. Deixamos nas mãos de outros a tarefa de agir...

Eu me pergunto: será que isso não é um reflexo do que fazemos a nós internamente também? Quantas vezes deixamos de atender às nossas necessidades mais prementes porque não acreditamos que somos capazes, porque acreditamos que não está em nossas mãos agir? Quantas vezes nos tornamos omissos em defender os nossos ideais, por não darmos crédito às nossas próprias convicções? Quantas vezes deixamos para o outro tomar atitudes em prol de nós mesmos que seriam de nossa única responsabilidade? Somos intimamente o que refletimos para o mundo exterior!

Precisamos sair de nosso casulo e compreender o que queremos. Precisamos saber o que é verdadeiramente precioso e acreditarmos que merecemos atingi-lo para tê-lo concretamente em nossas vidas. Somente nós poderemos fazer isso por nós. Deus espera que cheguemos a essa conclusão, pois Ele sabe que podemos, Ele sabe que temos condição e merecimento para, no esforço diário, criarmos nossa felicidade.

O Rio Doce já estava morrendo, mas somente agora, ante tal tragédia, nos levantamos e nos comovemos com tanta dor...

E nós, também não estamos morrendo em vida? Será que nós não estamos suplicando por atenção às nossas necessidades mais íntimas e nos fazemos de surdos para não mudarmos?

Por acreditarmos que as águas dos rios deste imenso Brasil jamais se escasseariam, não tomamos as devidas providências para poupá-la. Por décadas, os especialistas estão nos avisando, mas, mesmo antes quando já estava claro a diminuição de seu volume, muitos ainda desperdiçavam as suas águas...
Também nós não fazemos isso conosco? Também nós não precisaremos sentir a ausência da “água” em nossa casa para percebemos que sem ela tudo pode acabar? Então, o que nos faz parar e pensar até onde podemos ir sem mudarmos de atitude?

Talvez nós precisemos de um rio de lama tóxica para nos escandalizarmos e nos mostrar o que já não está bom!...

Para uma criança entender que o pote de bala não é eterno, precisa vivenciar, várias vezes, as suas balas acabarem e sentir que precisa agir diferente para poder delas usufruir por mais tempo. Assim também somos nós! Precisamos vivenciar várias circunstâncias doloridas para decidirmos mudar de atitude.
Certo é que, nos dias atuais, se não nos precavermos, estaremos esgotando o nosso “volume d’água” por abraçamos tantas atividades sem fim, por nos dedicarmos com tanta determinação ao trabalho e nos omitirmos junto aos que amamos, por não nos pouparmos.

Então, eu me pergunto: será que nós também não estamos morrendo, minguando, em nossas próprias margens?

Certo é que não poderemos entregar essa tarefa para mais ninguém além de nós mesmos. Somente nós poderemos construir para nós o ambiente necessário para que a nossa “nascente” não seque.

Para isso, não é necessário que façamos algo grandioso, mas que façamos algo! Que saiamos de nossa fortaleza exterior e nos arrisquemos para que o nosso ecossistema interior não entre em colapso.

Que paremos de colocar a culpa no outro e arregacemos as mangas e trabalhemos por nós.
Se não for assim, viveremos deixando de lado tudo o que é realmente importante para nós e somente agiremos ante a calamidade, quando a “onda de lama tóxica” chegar até nós e tivermos que agir sem demora.

3 comentários :

  1. Agradeço pela linda mensagem.
    Hoje percebo a lama que foi se aproximando de minha caminhada, sem que eu me desse conta ou a tivesse percebido, e hoje, diante dela, analiso quais as escolhas e caminhos são possíveis para amenizar os reflexos dela em minha vida.
    Ela já está aqui, então mãos a obra, e Deus permita que as escolhas e ações tomadas daqui pra frente possam me guiar para caminhos diferentes desses que se apresentam hoje, os novos caminhos, serão os das mudanças, não tão fáceis, mas necessárias e repletas de aprendizado.
    Desejo que Deus continue iluminando sua trajetória e mais uma vez, obrigada!

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  2. Recebemos sinais, em nossas vidas, avisando que a lama está chegando, mas, sabe...eu vejo que é uma pitada de cada elemento: preguiça, de não querer se expor, de achar que as consequências não chegarão para nós, enfim, mas, pensando da forma que você colocou no texto, é melhor identificar logo algo que precisa ser mudado do que ficar aguardando a "lama chegar", e olha que a lama não dá para esconder embaixo do tapete. Então, como disse a nossa amiga Marília ... "Mãos à obra" ! Bjs da Franciane Lima

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  3. Marilia e Franciane, realmente, precisamos ficar atentas ao que acumulamos em nossas barragens, porque de pouquinho em pouquinho vamos transformando em toneladas o que lá deixamos. E quando a barragem não aguenta mais, ela rompe, levando tudo o que está a sua frente sem piedade. Não é isso que fazemos conosco? Obrigada por compartilharem comigo os seus pensamentos. Abracos. Adriana Machado.

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